sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A fémea transmissora do canto

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Considera-se a fêmea do canário, por muitos aficionados na sua criação, como veículo primordial na transmissão do canto.
Há quem reduz a sua participação aos 70%, e outros abundam na ideia, de que comparte
igualmente com o macho a faculdade de delegar aos seus filhos a melodia das suas harmoniosas notas.
Como todos sabem, o canto é peculiar e exclusivo do macho.  Manifesta-se na adolescência, vai tomando incremento no  período da puberdade e alcança a plenitude da sua longitude, força e frequência na época de cio.
É inegável a influencia de alguma hormona extra gonadal, bem directamente, bem por
influencia sobre os órgãos sexuais, cujas secreções internas estimulam, na
produção do canto. (Ao descrever o mecanismo do cio no  nº 9 de PÁJAROS, dizia-se que
a glândula hipófise serve de estimulante do desenvolvimento testicular e ovárico).

Porque todos podem comprovar que a fêmea do canário em determinados momentos do cio emite um canto tão parecido ao do macho que a vezes se confunde.
Outro exemplo temos na galinha, que eleva um verdadeiro canto na postura com o seu caraquejar  a persistente.

Por outra parte, não se pode negar a influencia da secreção interna do testículo na
produção do canto e da voz. O galo castrado deixa de cantar. O eunuco sofre encurtamento da laringe e voz débil.

Deambulações à parte, considera-se o canto como próprio e exclusivo do macho, quer dizer ,
limitado ao sexo.Talvez esta confusão parta disso de considerar por alguns que a fêmea  como transmissora única do canto.


TRANSMISSÃO HEREDITÁRIA DO CANTO:

Não existe muita literatura que aclare de uma maneira definitiva a transmissão do canto nos canários. Os poucos livros publicados  referem-se com preferência na transmissão  da cor, que como propriedade visível  é mais fácil a seguir.
O canto como carácter mendeliano seguramente seguirá o mesmo caminho indicado para aquele, ou seja a fixação dos seus genes, nos cromossomas, e a junção  destes em virtude do mecanismo já concreto e indicado na fecundação e a divisão celular.
A teoria cromossómica da herança, devidamente confirmada, destrói por completo a crença de que nos cruzamentos intervenha o sangue como veículo transmissor de caracteres, e em suma das suas  percentagens como signo da pureza da raça.
Aplicando, pois, a teoria de Mendel na transmissão do canto nos canários, o resultado do cruzamento de um macho com uma fêmea  deve dar-nos na primeira geração F1, os filhos são os caracteres de ambos os pais unidos. (Lei da  Associação de caracteres).
Se cruzamos os irmãos entre si, obtemos uma segunda geração F2, na qual ter separado estes caracteres na proporção de 1:2:1, Es decir, que para uma criação de 4 canários, obteríamos 1 como o pai, outro como a mãe e 2 com os caracteres comuns do pai e da mãe  (Lei da segregação).

Refere-se esta proporção na diferença de um só par de caracteres entre os progenitores, pois se aumenta essa diferença entre 2 pares, 4 pares de caracteres aumentam as possibilidades de recombinação e segregação em tal proporção.
Todos podem apreciar a dificuldade de discernir devidamente quais são os caracteres
de canto que o pequeno canário herda do pai e qual da mãe padre . O  de esta, porque não se
manifesta e há que recorrer a ouvir os irmãos . Mas quando se desconhece estes? E o do
 pai, porque salvo no caso de ter sido educado com ele e ter adquirido a sua mesma
tonalidade e seu mesmo repertório, sempre existirá algum detalhe que faça a diferença e nos
force a atribuir na fêmea  esta variação herdada.
O que é indubitável é que tanto o macho como a fêmea  tem as suas características,
porque embora seja dentro de seu mesmo aviário , com vários anos de consanguinidade e selecção, os
genes fixados nos cromossomas podem efectuar um movimento  diferente aos que nas gerações
 anteriores eles produziram-se , e deram lugar a um individuo distinto na composição dos seus caracteres, que recordam a um antepassado distante. Alguém com frase gráfica tem dito que o individuo é o “autocarro dos seus antepassados”,
com o que se tem querido expressar a ideia de que cada ser leva dentro de si caracteres de um
número infinito de antecessores.
As consequências práticas que se deduzem do que foi dito em cima, podemos resumi-las do
seguinte modo:
O que compra um casal e solicita “que no sejam irmãos” deve saber que os filhos  deste
 cruzamento vão  resultar diferentes do pai e da mãe , sendo em suma ou a combinação dos dois, mas  em sentido impuro e, portanto, de inferior qualidade.
o cruzamento a seguir no ano seguinte  é irmãos com irmãos, com o que os caracteres associados se separam numa proporção de 1:2:1, isto que dizer, um semelhante ao pai,outro semelhante à mãe e dois como ambos. Ou um cruzamento retrogrado, com o que se obtêm uns 50 % de filhos como o pai ou a mãe , segundo o elemento que se utilize e outro 50 % com a  combinação do pai e mãe primitivos.
O mesmo procedimento deveria seguir aquele que compra um macho para cruza-lo com uma
fêmea  do seu aviário.
De maior importância é o  cruzamento de dois pássaros com a mesma linha de canto, ao que poderíamos chamar com mais propriedade de junção por semelhança de caracteres.
Neste caso, ainda que os progenitores não sejam consanguíneos, pode-se alcançar uma descendência
uniforme, homozigotica . Não se creia por isto, que as coisas se desenvolvam sempre de uma maneira tão matemática e exacta como a apontada, já que, se fosse assim,  facilitaria-se  a nossa tarefa.
Às vezes, produz-se  o fenómeno de acoplamento/ junção que limita a Lei da Independência dos factores.
Segundo a teoria cromossómica, os caracteres hereditários fixado com os genes que se situam nos
cromossomas da maneira das contas de um rosário e colocados na mesma  altura por afinidade de transmissão,
tanto nos cromossomas paternos como maternos. Ao fazer-se o acoplamento/ junção  para a
mitose ficam unidos em vez de separar-se para entrar, assim, num mesmo gâmeta e, portanto, n as novas gerações.
Outras, pelo contrario, una vez estabelecida a linhagem e transmitida, pode romper-se e
dar lugar a que os cromossomas  encontram-se com caracteres diferentes, devido a um
entre-cruzamento dos cromossomas (crossingover).
Não apontaremos mais dificuldades, que conduziram ao desanimo dos criadores.


In REVISTA: PÁJAROS Nº 11 (ESPAÑA).
FECHA: SEPTIEMBRE/OCTUBRE 1960.
AUTOR: ANTONIO GÓMEZ-TRELLES PINEDA

Bom é conhecer e valorizar todas as opiniões sobre um tema tão controverso como é o da genética entre os aficionados dos canários de canto. Este artigo do ano de 1960 dá-nos uma ideia diferente sobre os conceitos que hoje temos dos criadores do século XXI  . Ler e aplicar o que penseis seja mais útil para a realização dos vossos objectivos.

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